quinta-feira, 5 de maio de 2011

JEAN-PIERRE RAMPAL (1922-2000)

por Marcos Kiehl 


O dia 20 de Maio de 2000 foi uma data triste para o mundo da música, que perdeu um de seus maiores expoentes: Jean-Pierre Rampal. Mais triste ainda para nós flautistas, principalmente para aqueles que, como eu, tanto o admiravam. Neste aniversário de quatro anos de sua morte, achei que seria uma ótima oportunidade para lembrá-lo, e contar um pouco mais sobre sua trajetória. Tenho certeza de que todos os flautistas o conhecem de uma forma ou de outra, ou pelo menos já ouviram falar dele e de suas célebres gravações, mas também sei que muitos desconhecem detalhes sobre sua conturbada vida e sua extraordinária carreira

Rampal foi um dos maiores flautistas de todos os tempos, um dos artistas clássicos de maior sucesso e popularidade e certamente com a maior discografia (mais de 300 gravações!). Sua sonoridade cristalina, técnica extraordinária e grande sensibilidade musical o fizeram um dos maiores solistas de flauta de todos os tempos. Sua carreira internacional o levou aos quatro cantos do mundo e a qualquer cidade onde existisse uma orquestra que pudesse acompanhá-lo, chegando a realizar mais de 200 apresentações por ano (quase uma a cada dois dias), muitas vezes viajando longas horas de avião e tendo apenas alguns minutos para os ensaios.
Ele foi também um pioneiro, quando iniciou sua carreira era quase impensável que um flautista viajasse para se apresentar com uma orquestra de outra cidade. O concerto de Mozart era considerado “propriedade” do 1º flautista da orquestra, que vez ou outra se apresentava como solista, mas agora era um forasteiro quem estava chegando para solar o concerto. Rampal não raras vezes enfrentou situações embaraçosas com estes flautistas, mas que hoje são todos seus amigos. Sua carreira brilhante também abriu portas para que muitos outros flautistas seguissem seu caminho. Rampal elevou a flauta a uma categoria até então restrita aos instrumentos didos "nobres", ou “solistas”, como o piano, o violino e o violoncelo, e devemos todos nossa gratidão a ele.
Recitais de flauta e piano também eram raros, e seu primeiro recital oficial na Sala Gaveau de Paris em 1949 causou grande repercussão. Rampal também foi responsável por grande ampliação do repertório de flauta, redescobrindo, editando e gravando uma quantidade enorme de obras até então inéditas ou desconhecidas, atraindo também a atenção de inúmeros compositores contemporâneos que viam na flauta agora um instrumento de grandes possibilidades artísticas.
Em 1990, Rampal publicou sua autobiografia "Music my Love", uma leitura obrigatória para todos os flautistas.
 “Ah, Jean-Pierre, se ao menos você tivesse estudado mais...”(Joseph Rampal)
Com esta frase, que seu pai repetia sempre para ele, Rampal inicia sua autobiografia nos intrigando com este “contra-senso”: como poderia seu pai achar que o maior flautista do mundo não tenha estudado o bastante?
A frase talvez se justifique quando nos damos conta de que Rampal teve uma formação musical pouco convencional, quase informal, e que embora ele se interessasse pela flauta desde muito jovem, seus pais não desejavam que ele seguisse a carreira, direcionando-o para a medicina. Rampal de fato seguiu para a medicina, mas o mundo estava em conflito, era a 2ª Guerra Mundial, e diversos acontecimentos o fizeram oscilar entre a medicina e a música. À medida que lemos e acompanhamos os eventos em sua vida temos a impressão de que o destino parece ter conspirado e colaborado para que ele abandonasse a medicina e se tornasse um dos maiores flautistas de todos os tempos.
Rampal era filho de um excelente flautista e professor de Marselha, Joseph Rampal, a quem Moyse se referiu certa vez como um dos maiores talentos de sua geração. Mas isto não facilitou as coisas para o jovem Jean-Pierre: seus pais queriam mais segurança para seu futuro e fizeram de tudo para evitar que ele seguisse a carreira de músico. Seu pai o proibiu de estudar flauta e sua mãe queria que ele se tornasse médico. Seu pai somente o autorizou a aprender a tocar a flauta aos 12 anos, mas o fez por razões práticas e necessidades pessoais, pois ele estava com um aluno a menos no Conservatório de Marselha. Ajudou-o então a se preparar para o exame de entrada, onde ingressaria em 1934. Joseph era um professor muito exigente e austero, o que fez com que Jean-Pierre tivesse uma formação técnica muito rígida e sólida. Aos 14 anos recebeu o primeiro prêmio do Conservatório de Marselha.
Em 1939, aos 17 anos, Rampal já se estabelecia como um músico local e tocava segunda flauta para seu pai na Orquestra de Concertos Clássicos de Marselha. Os rumores da guerra aumentavam e a comida se tornava cada vez mais difícil de encontrar. Em setembro, após Hitler invadir a Polônia, Inglaterra e França declaram guerra à Alemanha. Em 1940, os alemães invadem a França e ocupam Paris. No momento em que isso ocorre, os músicos de Paris se mudam para Marselha, um território então considerado desocupado pelos alemães. As orquestras Nacional da França, da Radio e Lírica se mudam e da noite para o dia a cidade recebe mais de 300 músicos e renomados artistas, entre eles Lily Laskine (harpista que fez parceria com Rampal durante 35 anos) e o quarteto Pascal.
Apesar de seus trabalhos na orquestra, Rampal acaba seguindo a vontade de sua mãe e inicia seus estudos em medicina. Naquele ano, todos os jovens franceses são recrutados para o serviço militar e têm de passar nove meses nos campos de treinamento. Rampal é enviado à Nyons, e obrigado a realizar trabalhos forçados. Mas logo surge uma possibilidade de se livrar do trabalho pesado, e esta possibilidade vem através da música! Rampal é escolhido para a posição de primeira flauta na recém criada orquestra do campo de treinamento.
Mas sua verdadeira chance de escapar do campo vem, novamente com a música, quando seu colega e clarinetista da orquestra o convence a se juntar a ele num pedido de autorização para fazerem o exame de admissão do renomado Conservatório de Paris. Rampal não estava muito entusiasmado com a idéia de início, pois já havia se decidido não seguir a carreira musical, mas a possibilidade de poder sair do campo e poder passear por Paris o seduziu mais que a idéia de seguir uma carreira de músico profissional naquele momento.
Quando seu pai soube que faria o exame para o Conservatório, foi ao seu encontro e levou sua flauta Louis Lot de prata ajudando-o a se preparar, mesmo contrariado, afinal era o nome e a reputação dos “Rampal” que estaria em jogo. Rampal foi aceito já na primeira fase do concurso, mas não pode se matricular e teve de retornar ao campo porque não tinha autorização para ficar em Paris. Ao voltar recebeu uma notícia assustadora: de que os jovens nascidos em 1921 já haviam sido enviados à Alemanha, e que chegara a hora dos nascidos em 1922, seu ano. Mais uma vez, por sorte e graças à música, um de seus melhores amigos, Christian, que era filho de um influente médico, conseguiu para ambos uma carta com selo oficial requerendo ao comandante do campo que eles fossem liberados para fazer o exame para a Escola Militar de Medicina em Lyons. Surpreendentemente, o pedido foi aceito por um dos funcionários subalternos e não foi questionado pelos seus superiores. De posse do documento, Rampal e Christian saíram imediatamente e seguiram à pé 6 Km até a estação de trem, pois haviam perdido o último ônibus. De trem, seguiram a Marselha, onde pela manhã seus pais os esperavam já com os telegramas do campo de treinamento, de onde haviam “fugido”, exigindo seu retorno imediato.
Mas era Natal, e em Marselha eles estariam seguros pelo menos por algum tempo. Mas para não ser preso como desertor, Rampal decidiu que o melhor a fazer era requerer sua vaga no Conservatório de Paris, onde poderia ficar de forma quase anônima. Seu álibi agora seria a música, e sua carreira de médico teria que aguardar.
Como aluno da classe de Gaston Crunelle, Rampal estudou intensamente os Caprichos de Paganini e se preparou durante apenas quatro meses para o concurso anual do Conservatório. A peça especialmente composta para o concurso daquele ano de 1944 era "Le Chant des Linos" de A. Jolivet. Rampal, tocando de memória, recebeu o primeiro prêmio.
Mas ficar em Paris ainda era muito perigoso, e Rampal agora estava preocupado com seus pais em Marselha, onde os alemães agora estavam bombardeando. Decide então voltar a Marselha, e ainda incerto sobre qual carreira deveria seguir, retoma seus estudos de medicina, passando nos exames para o terceiro ano juntamente com seu amigo Christian. A França retoma o controle de Marselha em agosto de 1944, e logo a guerra chega ao fim com a vitória dos aliados.
Rampal já está para se formar em urologia e já faz estágios, auxilia em cirurgias, mas seus amigos do Conservatório de Paris, impressionados com seu talento, não o esqueceram e não querem desistir dele assim tão fácil. Em 1945, através da indicação de seus amigos Rampal é convidado à solar o concerto de Jacques Ibert com a Orquestra Nacional da França, em transmissão ao vivo pela radio. Rampal deixa Marselha para Paris prometendo à sua mãe que voltará aos estudos de medicina logo após este concerto. Mas sua performance de um dos concertos mais difíceis para flauta o coloca em grande evidência e o leva a assinar seu primeiro contrato de gravação: o quarteto para flauta de cordas de Mozart em ré maior com o Trio Pasquier em 1946.
Deste ponto em diante, Rampal nunca mais largou a música, e em Paris reencontrou seus amigos do conservatório e formou parcerias importantes com os pianistas Pierre Barbizet, Robert-Veyron Lacroix (durante 35 anos) e o Quinteto de Sopros Francês. Com eles participou de inúmeras gravações e transmissões de radio em premières que impulsionaram sua carreira internacional.
Em 1958, entrou para a Orquestra da Ópera de Paris e iniciou sua carreira internacional com grande triunfo apresentando entre outras obras a recém composta Sonata de F. Poulenc. Compositores como Boulez, Jolivet, Feld e Penderecki entre outros, também lhe dedicaram ou presentearam com suas obras que Rampal muitas vezes as apresentou e gravou em primeira audição mundial.
Também em 1958, Rampal começou a lecionar anualmente na recém fundada Academie d’été de Nice, onde ensinou a elite da flauta mundial por mais de 20 anos. Apontado professor do Conservatório de Paris em 1969, Rampal ajudou a criar uma geração de jovens virtuosos. Alguns de seus alunos foram Alain Marion, Ransom Wilson, András Adorjan, Robert Stallman, Philippe Pierlot, Shigenori Kudo, Patrick Galois, Philippe Bernold, Andréa Griminelli e Jean-Louis Beaumadier.
Talvez a grande “marca registrada” de Rampal tenha sido sua famosa flauta de ouro de 18 quilates, com a qual se apresentava, ficando logo conhecido do público como o "flautista da flauta de ouro", do "som dourado". Isto certamente ajudou sua carreira, ainda mais numa época em que pouquíssimos flautistas se davam ao luxo de possuir uma flauta de ouro. Rampal mais uma vez contou com a sorte para encontrar este verdadeiro tesouro: em 1948, alertado por um amigo, encontrou esta raríssima flauta de 1869 num antiquário, confirmando então boatos de que Louis Lot, o famoso construtor francês do século 19, havia produzido certa vez uma flauta de ouro que havia sido enviada à China. Mas era o pós-guerra, todos lutavam para sobreviver, e a flauta de ouro estava desmontada e pronta para ser derretida. Rampal só consegui salvá-la após prometer ao dono do antiquário o equivalente ao seu peso em ouro, o que conseguiu com a ajuda de seu sogro e juntando jóias de toda a família. Rampal levou a flauta para casa ainda em pedaços dentro de uma sacola, sem saber se havia feito bom negócio e se a flauta estava completa com todas as partes. Seu pai ficou eufórico quando viu a flauta, e após trabalhar durante toda a madrugada na sua montagem, pela manhã a flauta já estava pronta e tocando.

Rampal usou esta flauta por 11 anos, e só a “aposentou” quando recebeu uma flauta de ouro da firma americana William S. Haynes, em 1958. Costumava viajar levando ambas, até que em 1985, quando viajava de Los Angeles para Boston, sua valise foi roubada em Los Angeles. Rampal fazia o “check in” no aeroporto e colocou momentaneamente sua valise no chão enquanto dava a passagem para a atendente, quando se distraiu alguém passou e levou sua valise com as flautas. A polícia foi acionada imediatamente e iniciou as buscas pelo aeroporto, mas Rampal tinha um concerto no dia seguinte em Boston e não pôde esperar que a polícia encontrasse suas flautas. Ligou para seu amigo Lewis Deveau dono da fabrica William S. Haynes e conseguiu uma flauta de ouro emprestada, que eles estavam terminando de fazer para um cliente. Na madrugada do dia seguinte, a polícia ligou avisando que havia encontrado sua valise e pedia para que Rampal confirmasse se havia em sua valise um estojo com seis pedaços de “canos” dourados. Rampal, mesmo aliviado pela notícia, teve de usar para o concerto daquela noite a flauta recém terminada pela Haynes, a qual acabou comprando. (Rampal tinha ao todo quatro flautas Haynes de ouro, com pé em dó, pé em si e com afinações diferentes: 440, 442 e 445). Depois deste susto e certo de que sua Louis Lot de ouro seria insubstituível, Rampal passou a deixá-la guardada em um cofre em Paris. Uma de suas últimas gravações com esta flauta foi no Concerto de Brandemburgo Nº5 de J. S. Bach com a Academy of St. Martin-in-the-Fields, sob a regência de Sir Neville Marriner.
Rampal foi um "bon vivant", gostava de música, vinhos, de comer bem e de se apaixonar. Tinha muitos amigos, era carismático e carinhoso com todos que o abordavam, um verdadeiro “gentleman”. Apesar de tudo, era uma pessoa simples, que tocava com humildade e honestidade e que colocava a música em primeiro lugar. Quem o assistiu ao vivo presenciou seu amor pela música e jamais esquecerá a enorme emoção com que tocava. Era como se tocasse diretamente para cada um dos presentes. Ao final, voltava diversas vezes e tocava vários extras enquanto a platéia quisesse. Com seus alunos, era atencioso, quase paternal, não admitindo disputas entre eles. Procurava estimular o melhor de cada um, e lhes ensinava como amar e ser feliz com a música.
Suas incontáveis gravações são surpreendentes: no auge de sua carreira chegou a gravar mais de 10 discos por ano. Gravou quase todo o repertório de flauta, repetindo algumas vezes quando surgia um novo formato: no início eram 78 rotações, depois 33 (mono e estereofônico) e finalmente o CD digital. Ganhou várias vezes o “Grand Prix du Disque”. Sua gravação de maior sucesso comercial foi sem dúvida a “Suíte para Flauta e Piano Jazz Trio” de Claude Bolling, de 1975, seu primeira incursão pelo jazz, que vendeu mais de um milhão de cópias e  ficou mais de 10 anos consecutivos entre os discos mais vendidos do mundo.
Mas Rampal sempre frisou que nunca foi um “escravo da flauta”, e que estudar exaustivamente pode tirar o prazer de tocar. Segundo ele, o artista deve preservar o frescor e a vitalidade na música, de maneira que sempre que se toca uma obra, mesmo que seja pela centésima vez, deve-se tocá-la como se a estivesse descobrindo pela primeira vez, e como se estivesse cheio de alegria pela sua descoberta. Sem dúvida, a espontaneidade e o frescor de suas interpretações foram algumas das características que consagraram Rampal como intérprete, atraindo multidões para seus concertos.
Direta ou indiretamente, Rampal influenciou quase todos os flautistas de seu tempo. Costumava contar que se surpreendia quando viajava para lugares distantes e encontrava seus fãs com seus discos nas mãos pedindo seu autógrafo.
Sua parceria com a “International Music Company ” produziu mais de 200 edições que foram mundialmente divulgadas. Em suas masterclasses pelo mundo, era comum ouvir seus próprios fraseados e ornamentos reproduzidos pelos flautistas locais.
Rampal recebeu muitas honras durante sua carreira: o Prêmio “Leonie Sonning”, o “Prix du Président de la Republique” e o prêmio “Académie Charles Cros” pela sua discografia. Recebeu também os títulos de “Commandeur de la Légion d'Honneur”, “Officer des Arts et des Lettres” e “Commandeur de l'Ordre National de Mérite”.

YouTube Symphony intermission show complete: Sarah Willis and Nina Perlove, hosts

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http://www.youtube.com/watch?v=AitkiUDFf5U&feature=relmfu

Musical chat in the gardens, with the birds: Nina Perlove, flute, Ali Bello, violin






http://www.youtube.com/watch?v=bD5Z0DoDAzI&feature=player_embedded

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Gabriel Faure




Filho de gente modesta, mostrou muito novo notáveis aptidões para a música, tanto que aos 8 anos, sem auxílio de mestre, fazia improvisações no harmônio da igreja de Montgauzy.
Em 1855 Fauré entra para a afamada Escola Niedermeyer, de Paris, onde permanece como aluno interno até 1865, onde recebeu uma sólida educação musical e geral. Do corpo docente da Escola, fazia parte Saint-Saëns, ao qual ficou devendo, além dos seus conhecimentos pianísticos, uma cultura musical que não só abrangia os grande mestres contemporâneos, como lhe revelava a grandeza e perfeição de ofício de um Johann Sebastian Bach.
Fauré, após a guerra de 1870 faz contínuas viagens para assistir uma série de apresentações de Saint-Saëns e, principalmente, Richard Wagner. Embora impressionado com a música e o gênio de Richard Wagner, Fauré nem por um momento se deixou influenciar por uma arte inteiramente estranha ao seus temperamentos próprios, permanecendo na história da música francesa da segunda metade do Século XIX como um dos raros compositores que souberam resistir aos sortilégiosos Wagnerianos.
As peças para piano (improvisos, Nocturnos, Barcarolas, etc), que dotavam a música francesa de obras que ela há muito desconhecia, iam se sucedendo, acompanhadas pelas melodias admiráveis, implantavam na França um gênero que ia verdadeiramente continuar a tradição de Franz Schubert e Robert Schumann.
Em 1920, com a idade de 75, ele aposentou-se do Conservatório, principalmente devido à sua crescente surdez.

Fauré é, sem dúvida, um dos maiores nomes da música francesa moderna e um dos mais eminentemente representativos do espírito francês. Nos apresenta dominado pelo sentido da elegância, clareza, recato poético e oposição ao dramatismo oratório. Poucos compositores terão uma individualidade tão marcada quanto Fauré. Esta individualidade esta cimentada em três características próprias:
1. A característica textura da música, relevante principalmente nas peças de piano, com a fluidez da sua escrita baseada em engenhosas figurações de harpejos intercalados a um contraponto sutil;
2. A pessoal concepção da harmonia, que, baseada em grande parte nos modos gregorianos, apresenta uma mobilidade surpreendente;
3. A feição especial da melodia, que, embora subordinada ao movimento harmônico, é de uma amplidão, requinte e fragrância inconfundíveis, do que dão testemunho tantas paginas instrumentais, em que Fauré se mostra um dos maiores mestres de todos os tempos.

Obras principais
 
  • Après un rêve, Op. 7
  • Cantique de Jean Racine, Op. 11
  • Élégie, Op. 24
  • Requiem in D minor, Op. 48
  • Pavane, Op. 50
  • Dolly, Op. 56, 6-piece Suite for piano at 4 hands (Berceuse, Mi-a-ou, Le Jardin de Dolly, Kitty-Valse, Tendresse, Le Pas Espagnol)
  • Pelléas et Mélisande, Op. 80
  • Masques et Bergamasques, Op. 112
  • Messe Basse
  • Pénélope

Faure - Sicilienne

Faure - Sicilienne (Flute or cello or violin And Piano).pdf


http://www.4shared.com/document/ZdyGV776/Faure_-_Sicilienne__Flute_or_c.htm

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Masterclass: Mozart Flute Concertos D & G

Nina Perlove, a winner in the 2009 YouTube Symphony Competition, offers tips for preparing the Mozart Concertos in G major and D major (and oboe concerto in C major)

Miniatura


http://www.youtube.com/watch?v=h1U5EPdJ1u8

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Dicas

A flautista Léa Freire revela as atitudes e posturas para conquistar o seu espaço no mercado.


Léa Freire em "Cartas Brasileiras"

Relaxar a musculatura e não "forçar a barra" para evitar contusões e tendinites. Respirar fundo e repetir os exercícios bem de vagar, quantas vezes forem necessárias, até que o corpo entenda os movimentos. Essas são algumas das dicas de Léa Freira, uma flautista mais que reconhecida no cenário musical brasileiro.
Léa Freira diz que existem dois elementos determinantes para o bom desempenho da flauta. O primeiro é a embocadura onde o iniciante deve ter paciência e empenho para identificar a melhor forma de posicionar os lábios para tirar o som. O segredo é o controle da emissão do ar. "Uma caminhada sempre começa com o primeiro passo. Basta ir bem de vagar. No começo, o som sai tremido, mas isso é normal. Depois, as coisas vão se ajeitando. O importante é criar condições para que a prática da flauta seja fácil e gostosa ouvindo os diferentes estilos e ritmos mais variados possíveis", recomenda.
"Para ser um bom flautista é fundamental gostar do instrumento e do repertório que existe para ele", enfatiza a artista. "Além da paciência para obter o domínio, é preciso ter paixão pela flauta".
Léa revela que grande parte de seu sucesso como flautista deveu-se a atitudes como ter calma para aprender, não ter medo de errar, saber relaxar, buscar informações à respeito das leis que regem a profissão e a procura por uma linguagem e uma identidade própria. "Seja você mesmo. Tudo isso faz com que o músico tenha mais chance de ser bem sucedido", ressalta.













segunda-feira, 28 de março de 2011

Antonio Salieri

Salieri foi um importante músico à sua época. Cabe ainda ao compositor a honra de ter sido professor de Liszt, de Schubert e Beethoven. Reinou absoluto em seus dias. Suas peças tomaram os salões da Europa. Foram reverenciadas, apreciadas. Era o compositor oficial da Corte do príncipe José II da Áustria. Hoje, não se dá o mesmo crédito a Salieri como se dá a Mozart ou a Haydn, por exemplo. Em torno do compositor gravitam as mais questionáveis fábulas. Após o filme Amadeus (1984), que ganhou 7 oscares, há a retratação de um Salieri invejoso do génio de Mozart e medíocre musicalmente. Tal imagem é resultante da liberdade ficcional dos realizadores do filme, não correspondendo à figura histórica do compositor.








Antonio Salieri (1750-1825) - Concerto para pianoforte e Orquestra in B flat major, Concerto para flauta, oboé e orquestra em C maior
Concerto for Fortepiano and Orchestram, B-flat major
1. Allegro moderato
2. Adagio
3. Tempo di Minuetto
Concerto for Flute, Oboe, and Orchestra, C major
4. Allegro spirituoso
5. Largo
6. Allegretto

quinta-feira, 10 de março de 2011

As Choronas



Gabriela Machado - flauta
Ana claudia Cesar - cavaquinho
Paola Picherzky - violão de 7
Roseli Camara - percussão




Apanhei-te cavaquinho!
http://www.youtube.com/watch?v=VCg-VT4RlBE


Corta jaca
http://www.youtube.com/watch?v=o89JAKnUfVI&feature=related


site oficial: http://www.choronas.com.br/
Artist Photograph: Emmanuel Pahud



PAHUD SWINGS
It's quite possible that Emmanuel Pahud is the supreme flutist of our time. He is principal chair of the Berlin Philharmonic -- following in James Galway's footsteps -- and his solo concerts and recordings have been universally acclaimed. And though he may never attract the cult-like following of his Irish predecessor in Berlin, not even the great Galway has such an exquisitely pure, focused, and beautifully rounded tone. He's a stylish player, too, à la Jean-Pierre Rampal, and his recordings of Bach, Telemann, and Mozart show off his superb musicianship to good advantage. As his reputation has grown, Pahud has felt more comfortable branching out, exploring his interest in contemporary music (check out a mind-blowing disc of music by Sofia Gubaidulina) and in jazz, collaborating with pianist Jacky Terrasson on Into the Blue, his latest release. Andrew Farach-Colton reached the French-born flutist in Washington, D.C., where he was taking a few days away from his Berlin gig to appear as soloist with the National Symphony.
The Philharmonic Flutist Cuts His First Jazz Record
Barnes & Noble.com: How did you and Jacky Terrasson get together?
Emmanuel Pahud: Jacky was classically trained in Paris, and I've always been interested in other styles of music, including jazz. So, of course, I had heard of Jacky, because he's a great jazz pianist, and he had heard about me. Since we are both under contract with EMI labels -- Jacky's with Blue Note, and I'm with EMI Classics -- it was easy to make contact. We met up in Switzerland at one of Jacky's concerts, exchanged some ideas, and realized we could do something together based on French mélodies and use these songs as the starting point to improvising together.
B&N.com: Had you played jazz before?
EP: I hadn't -- at least not officially -- but we've started playing this music in concerts, so I guess that now I have made my debut.
B&N.com: How much of your playing on the album is improvised?
EP: I'd say it's 50/50. We prepared a set list for the recording sessions about one or two months before. Then we met up a couple of times and worked on finding the kinds of sounds, arrangements, and rhythms that we'd like to get on various pieces. In some pieces, I'm playing the original text while the trio improvises around me, and in others I'm improvising with them.
B&N.com: The music on Into the Blue is based entirely on classical compositions. How did you choose the repertoire? Are some classical pieces more difficult to improvise on than others?
EP: Oh, certainly. Some pieces are more adaptable to a jazz version than others. Something like "Après un rêve" by Fauré became a very soft track, like a slow swing, and it's a beautiful jazz number simply because it's a beautiful melody. "Bolero" and the "Pavane" by Ravel, however, are pieces where we really improvised. It's hard work for me, sometimes, knowing where to play what and finding the right spot to start an improvisation, because I haven't been trained in jazz. I'm growing into it through my contact with great musicians like Jacky, bassist Sean Smith, and drummer Ali Jackson. It's been such a fantastic experience for me.
B&N.com: There's a lot of humor in the album, too -- like the sudden appearance of "La Bamba" in Ravel's "Bolero" and the reggae version of Mozart's Turkish Rondo. It sounds like you were having fun in the studio.
EP: We had lots of fun! And now that we're playing this music together in concert on tour, it's getting to be even more fun. We're really going deeper -- using quotes from one piece in another, and we've added some new numbers. But even on the CD, flute players will be able to find some bits and pieces of Varèse, Debussy, and other composers whose names are not actually stated on the CD cover, because I use other material to provide a basis for the improvisations. I remember playing the CD for some of my friends, and they couldn't recognize the Four Seasons of Vivaldi, though they were violinists themselves! Yet, if you listen for a second time, you'll probably recognize the Four Seasons and realize there's something different going on. And then you listen a third time you might hear "Singin' in the Rain" in the middle of Vivaldi's "Spring." So, the hope is that every time you listen to it you'll discover something new. This was the challenge for us -- to do something that both met our artistic demands yet could also be very easy listening, in a way.
B&N.com: The first time I listened to the album, I was reminded once or twice of Rampal's recording of Claude Bolling's Suite for Flute and Jazz Piano. And I was delighted to hear that you put Bolling's "Véloce" at the end of the disc. Rampal's record was one of the granddaddies of crossover projects. Was the Bolling record an inspiration for you?
EP: Yes, I think this was one of the first crossover recordings; it was a huge hit worldwide, and there are some good pieces in there. In fact, the original idea was for us to revamp the suites and do a Bolling album. But Bolling's wish was to have a classical player play as classically as possible, as opposed to a jazz trio playing as jazzy as possible, and we thought that the way it was done on those original recordings was perfect. But it wouldn't work for us today; we wanted to do something else. And so the Bolling part of the record turned out to be just this one track, the "Véloce," and we put it in a shaker and made a wild thing out of it.
B&N.com: Do you listen to jazz?
EP: I do. We have this great jazz radio station in Berlin, and I have it on all the time.
B&N.com: What jazz musicians do you especially admire?
EP: Of the jazz flutists, I love James Newton, and there are also great tracks by James Moody, Herbie Mann, and Jeremy Steig, who recorded with Bill Evans. Then there's Miles Davis and John Coltrane. An album like Kind of Blue is just phenomenal. Oh, and I also love Joe Henderson, the saxophone player.
Plus, now I'm doing some big band music in Berlin with friends and colleagues from the Berlin Philharmonic and some jazz musicians. We recently had a big band concert in Berlin, so jazz is really a part of my life now.


fonte:http://music.barnesandnoble.com/search/interview.asp?CTR=44491

Sonata em Sol menor - Bach




Emmanuel Pahud plays Bach (Flute Sonatas)
Sonata in G Minor BWV 1020
I.Allegro
II. adagio
Emmanuel Pahud~Flute
Trevor Pinnock~Harpsichord

http://www.youtube.com/watch?v=98EiwZet834


Emmanuel Pahud plays Bach (Flute Sonatas)
Sonata in G Minor BWV 1020
III.Allegro
Emmanuel Pahud~Flute
Trevor Pinnock~Harpsichord

http://www.youtube.com/watch?v=QTUI0xSldtk&feature=related

sexta-feira, 4 de março de 2011

Madrigal flauta e piano - Philippe Gaubert



Para baixar a partitura:  http://www.4shared.com/get/mqvxzODf/Gaubert_-__Madrigal_-_flute_an.html
Video: http://www.youtube.com/watch?v=DNR1J12eBOk



Philippe Gaubert (1879 – 1941) era a Francês músico que era um distinto performer na flauta, respeitado musico e a compositor para a flauta.
Gaubert foi criado em  Cahors no sudoeste France. Transformou-se um dos músicos franceses mais respeitados.   Após uma carreira proeminente como  flautista em Paris Opéra, foi apontado em 1919, na idade de quarenta, para três posições que o colocaram no centro  da vida musical francesa:
  • Professor da flauta no Conservatório de Paris (professor de Marcel Moyse),
  • Condutor principal da Paris Opéra
  • Condutor principal do DES Concerts du Conservatório de Orchestre de la Société.
Como compositor, Gaubert não era um inovador, mas seu trabalho beneficiou-se de muitas das inovações de Franck, Ravel e Debussy. Gaubert morreu em  Paris em 1941 Seu amigo, jornalista Jean Bouzerand sugeriu para a cidade de Cahors a criação, no fim dos anos 1930, de um jardim público nomeado “Philippe Gaubert”.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Andante For Flute in C Major Mozart


James Galway At Lincoln Center 1983



Pahud bach flute partita in a Minor

Emmanuel Pahud_3_por Peter Adamik EMI Classics.jpg


"...Bach escreveu uma obra para flauta, a Partita para flauta solo BWV 1013, de grande dificuldade técnica. Bach parece ter levado em pouca conta a necessidade de respirar do executante e escreveu música que flui ininterruptamente, sugerindo que a peça foi composta originalmente para outro instrumento."
fonte:http://pt.wikipedia.org/wiki/Johann_Sebastian_Bach

01-Allemande.mp3
02- Courante.mp3
03-Sarabande.mp3
04-Bouree Anglaise.mp3



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terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Ernest Kohler - Fourty Progressive Duets, Op[1]. 55 - Part I - Flute.pdf

Köhler, Ernesto.jpg



Ernesto Köhler (04 de dezembro de 1849, Modena - 17 março de 1907, Saint Petersburg ) foi um flautista e compositor . Ele aprendeu  flauta com seu pai, Venceslau Joseph Köhler, que fazia a primeira flauta da orquestra do Duque de Modena .
 Em 1869, após o início da sua carreira como flautista, mudou-se para Viena e depois para São Petersburgo em 1871.  Ele permaneceu em São Petersburgo para o resto da vida como um membro da orquestra da Ópera Imperial.  Ele também era solista e compositor, professor na Oldenburg Prinz Instituto, e conduziu a Orquestra Imperial, do Instituto de Engenharia.
 Compôs mais de 100 obras para flauta: études , duetos e solos.  Köhler também produziu uma ópera e diversos bailados .  Ernesto Köhler faleceu em São Petersburgo em 17 de março de 1907


Kohler - Fourty Progressive Duets, Op[1]. 55 - Part I - Flute.pdf



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quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Sigismund Neukomm (1778-1858): O Amor Brazileiro
















“… fico aqui durante algum tempo, quem sabe para sempre… Sinto-me muito bem e minha situação na corte portuguesa do Brasil é muito agradável. O Rei e sua família são muito bons para mim” (S. von Neukomm, Rio de Janeiro 18/3/1817)
Em 1808 D. João VI havia instalado no Rio de Janeiro a única corte real jamais existente na América Latina. Amante das artes e privado da riqueza cultural de que dispunha em Lisboa, graças principalmente ao ouro extraído do Brasil, ambicionava incrementar as atividades artísticas no Novo Mundo. Paradoxalmente, o destino quis que o mesmo Napoleão que havia causado a sua fuga de Lisboa ajudasse esse projeto. Após a queda do imperador, um grupo de artistas que o apoiava decidiu deixar a Franca; assim chega ao Brasil em 1816 a Missão Artística Francesa, reunida pelo Embaixador do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarve, o Marquês de Marialva. A Missão era composta de artistas notáveis, como os pintores Jean Baptiste Debret, Nicolas Taunay, Joachim Lebreton, os escultores Auguste Marie Taunay, Marc e Zépherin Ferrez e o arquiteto Grandjean de Montigny.
Pouco depois desembarca também no Rio o Cavalheiro Sigismund von Neukomm, o aluno preferido de Joseph Haydn e protegido de Talleyrand. Sua autobiografia e as cartas escritas ao longo de sua estadia são um testemunho do seu encanto por tudo em que encontrou no Brasil. É notória a admiração que nutria pelo Padre José Maurício Nunes Garcia (1767 - 1830), considerado o maior compositor brasileiro da época. Neukomm foi também fortemente impressionado pelos gêneros populares, o lundu e a modinha, que o inspiraram em duas de duas obras: “O Amor Brazileiro” e “L’amoureux”. Recolheu e harmonizou ainda uma coleção de vinte “modinhas”, de autoria de Joaquim Manoel da Camara, virtuose do “cavaquinho” e do violão, porém analfabeto em notação musical. Essa coletânea, impressa em 1821 em Paris sob a supervisão de Neukomm, constitui um dos primeiros registros de modinhas da história, além de ser o único testemunho da arte de Câmara e um importante documento sobre a atividade musical no Rio de Janeiro no início do século XlX.
O programa deste CD compreende a integral das obras de Neukomm para flauta transversal solo ou acompanhada de fortepiano. A maior parte das obras foi escrita quando da estadia de Neukomm no Rio de Janeiro, onde ele encontrou provavelmente o flautista virtuose Pierre Laforge, nomeado para a Capela Real e para a Câmara Real em novembro de 1816. As partes destinadas ao fortepiano deixam entrever as habilidades do compositor ao teclado. Observe-se que quatro das cinco obras foram impressas na época pela editora Breitkopf, o que permite vislumbrar o prestígio do compositor.
Fantasia para fortepiano e flauta (São Petersburgo, 11/7/1805)
Neukomm nutria estima por vários de seus colegas, a quem dedicou elegias, como a escrita em 1812 para Jan Ladislav Dussek (1760 - 1812) quando de sua morte. O compositor boêmio, que havia precedido Neukomm como pianista do Principe Talleyrand, é também o dedicatário da Fantasia gravada neste CD.
Toda a primeira seção do Largo enfatiza a tonalidade de ré menor, fortepiano e flauta alternando-se em um diálogo que cresce dinamicamente, passando por acordes de 7° diminuta. Um pedal em lá precede a modulação para si bemol maior, em que o fortepiano faz um desenho rítmico marcado, enquanto a melodia da flauta faz lembrar o discípulo de Haydn. A seção seguinte, em fá maior, é outro exemplo da habilidade melódica de Neukomm, e cabe ao fortepiano, que a desenvolve antes de preparar a nova entrada da flauta, também em fá. Uma volta ao desenho inicial e seguida por uma sequência de retardos. A última seção, bem mais movida, vai num crescendo de virtuosidade, alternando arpejos e escalas, que anunciam o tema do terceiro movimento.
O segundo movimento é escrito em 5 tempos, assim como o Andante do último Duo, uma ousadia rara naquela época! Lembramos, então, de que Neukomm era um maçon e, talvez, quisesse ilustrar a estrela de 5 pontas que está presente na fachada das lojas maçônicas.
O tema principal do terceiro movimento é marcado por uma escala ascendente, enérgica, que é alternada com arpejos descendentes, tanto no fortepiano quanto na flauta. O segundo tema, em fá, faz lembrar a doçura do tema em fá do primeiro movimento. O ápice da obra acontece no fugato final, em que o tema principal é apresentado em quatro vozes, com aumentações, até o final fortíssimo.
L’Amoureux (Rio de Janeiro, 12/4/1819)
Esta fantasia é dedicada aos seus amigos Madame e Monsieur Langsdorf, cônsules da Rússia no Brasil e em cuja chácara costumavam-se reunir, em serões musicais, os melhores músicos da época. Ali o Padre José Maurício dava expansão aos seus raros dotes de improvisador, ao mesmo tempo que lia, com Neukomm, as últimas novidades musicais chegadas da Europa.
Há no manuscrito a seguinte inscrição: “La Melancolie, modinha por Joaquim Manoel da Câmara”. Joaquim Manoel foi, depois de Domingos Caldas Barbosa, o mais famoso modinheiro do Brasil Colônia, célebre também por sua virtuosidade ao cavaquinho.
O primeiro movimento comega por um recreativo em dó maior, tonalidade predominante da obra. A modinha é apresentada em lá menor, sugestiva da “melancolia”, primeiro na flauta e depois no fortepiano. No segundo movimento, um Andantino Grazioso, flauta e fortepiano alternam-se em um diálogo cheio de humor. O Allegro final explora mais uma vez as habilidades do pianista virtuose. Como no Amor Brazileiro, a obra termina em vigorosos acordes em dó maior.
O Amor Brazileiro, capricho para fortepiano sobre um lundu brasileiro (Rio, 3/5/1819)
Desta obra, a primeira de todos os tempos inspirada em um lundu, existem dois originais manuscritos de Neukomm, um deles dedicado à Mademoiselle Donna Maria-Joaquina d’Almeida. As modinhas e lundus brasileiros faziam sucesso em Portugal, na voz de Domingos Caldas Barbosa. Acompanhando-se em sua viola de arame, o modinheiro era figura frequente nos salões da aristocracia lisboeta. Um desses lundus tem por assunto “o amor brasileiro”. Perdeu-se a música, mas salvaram-se os versos, publicados no “Viola de Lereno”, obra muito conhecida na época. O perfeito encaixe da letra com a música permite supor que daí tenha vindo a inspiração para o capricho de Neukomm.
A principal particularidade do lundu é a síncope característica, herdada de fontes africanas, que será posteriormente incorporada no tango brasileiro, no choro e no samba, gêneros tipicamente brasileiros.
O capricho começa por uma introdução em 6/8, marcada Andante grazioso. lmediatamente antes da primeira intervenção do lundu, Neukomm transforma o ritmo, acentuando a Segunda parte de cada tempo, o que prepara o ritmo sincopado. O trecho referente ao lundu recebe a indicação de Allegro e o compasso muda para 2/4. A partir de sua primeira exposição, o compositor explora o lundu à maneira de tema com variações ou de fantasia até a seção final. Ali acontece a transmutação do lundu em valsa, metáfora da aculturação a que o lundu foi submetido quando incorporado pelos salões da aristocracia carioca.
Fantasia para flauta (Paris, 10/11/1823)
Composta de uma introdução Adagio, seguida por um Allegro, a Fantasia é a unica obra que Neukomm compôs para flauta solo. O Adagio se inicia com o mesmo harpejo em ré menor da Fantasia em homenagem a Dussek. Neukomm se serve de belas melodias, progressões e modulações muito próprias, alternando o ré menor com o fá maior de conotação otimista. Explora com frequência as notas graves da flauta clássica, que não existiam na flauta barroca - o ré bemol (ou dó sustenido) e o dó.
O Allegro é iniciado por uma dramática melodia em ré menor na região grave da flauta. Mostra uma riqueza em dinâmica e contrastes entre passagens de virtuosismo e cantabile. Desde o compasso 7, e depois no compasso 106, há um fragmento melódico bastante característico, que seria uma semente do hino nacional brasileiro, composto por Francisco Manuel da Silva em 1831. O compositor brasileiro havia sido discípulo de Neukomm durante toda a sua estadia no pais. Em dois momentos Neukomm faz uso da escala cromática, eterno simbolo de “busca”, ainda tecnicamente bastante desconfortável na flauta de 5 chaves. Depois de modulações em lá menor e maior, a fantasia termina triunfalmente na tonalidade de ré maior.
Duo para flauta e fortepiano (Rio de Janeiro, 23/2/1820)
Aqui está novamente a estrela maçônica metaforizada no primeiro movimento em 5/8, bastante soturno, em mi menor. O Allegro do Segundo movimento, em forma sonata, é cheio de vitalidade. O primeiro tema, em mi menor, começa por harpejo ascendente, o segundo tema toma a forma de uma inspirada melodia em sol maior. Na Segunda parte, o piano reapresenta o tema em mi menor e, após seqüências em sétima diminuta, modula para si menor. Novas apresentações do tema na tonalidade original, até uma surpreendente modulação em dó maior, depois em mi bemol maior, mi bemol menor, sol bemol maior, até a apresentação do tema dois em mi maior pelo piano. Um “affretando” conclui o movimento.
O terceiro movimento, Adagio “com religiosidade”, é um dos momentos mais inspirados da música de Neukomm. As tonalidades de dó maior e sol maior contribuem para a paz que emana da melodia. A seção intermediária evolui através de surpreendentes modulações em mi bemol maior, dó menor, fá menor, ré bemol maior, lá bemol maior, dó menor. Depois de uma cadência em hemiola, o tema reaparece à guisa de conclusão, confiado - como no início - ao piano.
Enfim, o último movimento toma a forma de uma giga. O tema é primeiramente apresentado pelo piano, depois pela flauta. A modulação em sol sustenido menor surpreende, ainda mais pela pouca adaptabilidade à flauta. O tema é apresentado novamente em si maior, antes de uma seção solo do piano, onde aparece uma nova melodia. Os dois instrumentos dialogam antes do “da capo” final.
(Rosana Lanzelotte, extraído do encarte)
Sigismund Ritter von Neukomm (1778-1858)
01. Fantaisie pour Pianoforte et Flûte (1805) 1. Largo
02. Fantaisie pour Pianoforte et Flûte (1805) 2. Andante Con Moto
03. Fantaisie pour Pianoforte et Flûte (1805) 3. Allegro Assai
04. L’Amoureux (1819) 1. Andante
05. L’Amoureux (1819) 2. Andantino Grazioso
06. L’Amoureux (1819) 3. Allegro
07. O Amor Brazileiro (1819)
08. Fantaisie Pour Flûte (1823)
09. Duo pour Flûte et Pianoforte (1820) 1. Andante
10. Duo pour Flûte et Pianoforte (1820) 2. Allegro Agitato
11. Duo pour Flûte et Pianoforte (1820) 3. Adagio
12. Duo pour Flûte et Pianoforte (1820) 4. Allegretto

O Amor Brazileiro - CD 1 de 2 - 2004
Ricardo Kanji, flûtes
Rosana Lanzelotte, pianoforte



para baixar o cd: http://rapidshare.com/files/400804126/AVI-100621-O_Amor_Brazileiro_Disco1.rar